quinta-feira, 15 de maio de 2008

Eta, vida boa.

Faz um tempo que eu estou difícil de engatar a primeira em coisas que vão além das minhas obrigações, como trabalhar, ou das que me dão prazer imediato, como beber, fumar, ir ao cinema, encontrar meus amigos e outras cositasmás.
E isso me irrita profundamente. Mas a inércia, perdoem a palavra, é foda. Quebrar a inércia então, é pior ainda.
A minha rotina tem sido pouco saudável: Acordo em cima da hora, levanto correndo e saio de casa esbaforida, quase sempre insatisfeita com a roupa que escolhi para vestir.
Na última semana acordei tão atrasada que peguei táxi de segunda à sexta para ir trabalhar. Como se eu pudesse.
Aí, chego na trabalho, como umas frutinhas - devem ser elas que salvam os meus dias, porque tem sido o meu único hábito saudável de uma quinzena para cá. Sento a bunda em frente ao computador e fico, até a hora do almoço.
O cigarro da manhã eu fumo no táxi.
Também não tenho me dedicado muito à hora do almoço. Em vez de sentar, tranquila e comer comida, fico perambulando pelo jardins.
Quando olho a hora, atrasada de novo. Saio correndo de onde estiver para chegar a tempo no escritório de não atrasar a refeição dos outros, que por vezes confundem falta de pontualidade com falta de respeito. Ups. Porque na MKT Mix nos dividimos em levas para o almoço, a primeira, das 12h30 às 13h30, e a segunda, das 13h30, cravadas, até às 14h30.
15hs é o horário da pílula. Esse eu nunca esqueço, thanks God.
Outra coisa boa é que me livrei do potinho de balinhas de caramelo com chocolate, que fica a nossa disposição todos os dias, na copa. Tudo bem que as balinhas foram muito bem substituídas pelos potes de doce de leite que o Claudinho trouxe de Minas. Não bastasse um, eram dois potes.
Depois das 18h cerveja e cigarro, e agora cachaça, estão liberados. Afinal, "eu mereço", né gente?
Aí começa tudo de novo. OTRA VEZ.
O que precisda ser feito:Voltar a correr, me inscrever na ioga, fumar e beber menos e entrar numa dieta. Dormir seis horas por dia e acordar antes das 08h. Carregar o bilhete único e voltar a usar ônibus. Comprar queijo minas light, pão de foma integral light e leite desnatado para o café da manhã. Sopinha para o jantar.
Mas o pior de tudo, sabem o que é? Eta, vida boa!

terça-feira, 13 de maio de 2008

Uma juventude como nenhuma outra

Algum dia da semana passada, não lembro se quarta ou quinta, havia subido a rua da Consolação, como de costume, para pegar o ônibus na Paulista, no ponto novo, recém-inaugurado, entre o Bob´s e um canteiro com uma árvore gigante. Aliás, lugar super apropriado para se colocar um ponto de ônibus. Mas tudo bem, quem se importa, as calçadas já estão asfaltadas mesmo.

Mas a história que eu vou contar aconteceu antes de eu atravessar a avenida. Estava indo em direção à banca em frente ao Conjunto Nacional quando uma movimentação estranha ali mesmo me chamou atenção. Estranha em termos, porque ver PMs abordando engraxates, motoboys e mordores de rua só por isso já virou recorrente.
Agora lembrei, tinha ido até a banca para acender o meu cigarro, que subiu a consolação inteirinha entre os meus dedos, apagado.

Na cena, três pessoas: dois PMs e um engraxate.
Dos policias, um era bem alto e falava grosso, desses que ficam maiores ainda quando estão de farda; o outro, mais baixinho e gordinho, de expressão mais humana. O engraxate dizia que nada tinha a perder e que não aceitaria passar pelo constrangimento de levantar os braços de costas para o vai-e-vém sem motivo.
E perguntava o motivo. Depois de um tempo, ele cismou e queria saber o motivo de qualquer jeito.

Claro, aquele enfrentamento não estava nos planos da abordagem dos PMs. Resultado, os guardas pegos desprevenidos reagiram um de uma forma, outro de outra.
O mais alto engrossou e a cada passo que dava falava mais alto, com mais autoridade. Àquela altura do campeonato, já virara questão de honra. O mais baixo cumpria o papel da turma do "deixa disso" e tentava controlar a situação que já fugia do controle, afinal, o ele queria o motivo.

E de repente, o engraxate já não fazia mais parte da cena e o que a av. Paulista assistia era a uma discussão entre duas pessoas, diferentes, unidas pelas farda e colocadas como parceiros na ronda metropolitana. E que num contexto de tensão, apesar da aparente banalidade, os conflitos, as idéias, os valores e os sonhos ficam à flor da pele, a um ponto que nada, nada, nada mais é banal.
Eu vi ali, pessoas reagindo, que tranquilamente podiam estar sem farda, reveladora:
:
1. Inacreditável como o que fazemos é determinate na visão social que é construída inconscientemente sobre nós.
A farda, no caso, descaracteriza e despe a pessoa de qualquer subjetividade, como se aqueles corpos que sustentam a maldita farda fossem produzidos em série para funcionar, agir, reagir e responder da mesma forma a toda e qualquer situação.

2. O impacto que a farda tem sobre nós também é inacreditavel. Se fosse eu no lugar do engraxate, provavelmente não teria enfrentado com tanta força a farda.

3. A maioria dos que a vestem contam com esse impacto. No momento em que foram peitados, saíram dos trilhos.

Lembrei do filme "Uma juventude como nenhuma outra" que retrata o dia-a-dia de duas jovens submetidas ao serviço militar - obrigatório - em Israel.
Quase a mesma situação, uma delas, sionista, insistia em realizar a revista em pessoas "suspeitas" - como ditavam as regras - ao passo que a outra estava lá por não ter opção e sempre que podia, burlava a lei.
Um belo filme que procura expor aquelas pessoas como algo que transcenda o que elas fazem. Não que uma coisa não tenha nada a ver com a outra. Mas serve para nós, que achamos que sabemos de tudo, onde qualquer comentário de observasdor pode virar tese, que a dinâmica não é tão simples assim - pá, pum. E que deve haver muita vida por trás do que nos parece uma vida inteira.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Gal X Zé

Tanto tempo que não escrevo que é como se as palavras fossem novas, estranhas para mim. Nesse tempo muita coisa passou, principalmente pela minha cabeça, que não sei por onde re-começar a jornada, que quero sem fim.
Quis ir e não pude. Quis ir e achei que fosse. Só sei que no fim das contas fiquei, não fui viajar pelo Brasil nem fui para a Itália.
De início fiquei ansiosa e vivi a expectativa de desbravar o país-continente de braços abertos, sem medo, sem receio, queria mesmo era me jogar, mergulhar de cabeça do Rio Grande do Sul ao Acre, passando pelo meu amor em São Paulo. Ele ficaria, mas na verdade quem ficou fui eu. Ele foi, pro continente antigo, casou a irmã, comeu, viajou, viveu ao lado dos queridos e voltou, ah! voltou!

A essa altura a espera já não era a mesma. Já não havia mais ansiedade e tampouco expectativa.
Virei cética e com dor no coração não queria mais saber de nada, só de sair do lugar de onde estou há mais de ano. E como sou jovem, mais de ano é muito tempo.
Já não estava tão exigente, viajar o Brasil? Não, não, estava topando re-iventar a vida besta, que é também maravilhosa.
Aí veio a Gal e tocou Divino, Maravilhoso! Eu até subi na árvore para ver de perto, mas quando cheguei no topo dei de cara com o Zé Ramalho. E a Gal? E o meu divino, maravilhoso? Deu até medo, quis descer e não pude. Me disseram "Tanto esforço - nem foi tanto assim - para não assistir nem uma música inteira?". Concordei e fiquei por lá mais um pouco, já não prestava atenção no Zé, mas em todos os zés, joãos, marias, georgias, mairas, mauricios, heloisas, daniellas, chicos, rodrigos...em todos que não eram poucos que ocupavam de forma atípica a esquina da São João com a R. Aurora.
E foi demais.

A lição? Enxergar tudo sempre do maior ângulo possível. Viajar o Brasil pode ser o máximo, da mesma forma que ter visto a Gal cantando a nossa música certamente teria sido emocionante. Mas não foi e foi mesmo assim.
Depois quando encarei o Zé Ramalho e não gostei, virei para o outro lado, e como num passe de mágica, encontrei um outro mundo - divino, maravilhoso - completamnete diferente e surpreendente, que só existia ali, daquele exato jeito, porque o Zé estava na direção oposta.
Não se trata de espetacularizar o ordinário, mas de perceber quão espetcular o ordinário pode ser.
E mais tarde, a caminho de Araçatuba pedi para colocar uma música para tocar. Com a permissão e com uma certa nostalgia da saudade, fui certeira, Leonard Cohen - Lover, Lover, Lover.
Ele: "Por que essa música?".
Eu: "Porque ouvi até cansar, ela me trazia você nos tempos de saudade." A segunda parte só pensei.
Foi quando ele me disse, com expressão de surpresa, que também havia escutado a mesma música, sempre cinco horas antes de mim.
Ai pensei, de novo em silêncio, "Assim, quem precisa de Divino, Maravilhoso?".