quarta-feira, 7 de maio de 2008

Gal X Zé

Tanto tempo que não escrevo que é como se as palavras fossem novas, estranhas para mim. Nesse tempo muita coisa passou, principalmente pela minha cabeça, que não sei por onde re-começar a jornada, que quero sem fim.
Quis ir e não pude. Quis ir e achei que fosse. Só sei que no fim das contas fiquei, não fui viajar pelo Brasil nem fui para a Itália.
De início fiquei ansiosa e vivi a expectativa de desbravar o país-continente de braços abertos, sem medo, sem receio, queria mesmo era me jogar, mergulhar de cabeça do Rio Grande do Sul ao Acre, passando pelo meu amor em São Paulo. Ele ficaria, mas na verdade quem ficou fui eu. Ele foi, pro continente antigo, casou a irmã, comeu, viajou, viveu ao lado dos queridos e voltou, ah! voltou!

A essa altura a espera já não era a mesma. Já não havia mais ansiedade e tampouco expectativa.
Virei cética e com dor no coração não queria mais saber de nada, só de sair do lugar de onde estou há mais de ano. E como sou jovem, mais de ano é muito tempo.
Já não estava tão exigente, viajar o Brasil? Não, não, estava topando re-iventar a vida besta, que é também maravilhosa.
Aí veio a Gal e tocou Divino, Maravilhoso! Eu até subi na árvore para ver de perto, mas quando cheguei no topo dei de cara com o Zé Ramalho. E a Gal? E o meu divino, maravilhoso? Deu até medo, quis descer e não pude. Me disseram "Tanto esforço - nem foi tanto assim - para não assistir nem uma música inteira?". Concordei e fiquei por lá mais um pouco, já não prestava atenção no Zé, mas em todos os zés, joãos, marias, georgias, mairas, mauricios, heloisas, daniellas, chicos, rodrigos...em todos que não eram poucos que ocupavam de forma atípica a esquina da São João com a R. Aurora.
E foi demais.

A lição? Enxergar tudo sempre do maior ângulo possível. Viajar o Brasil pode ser o máximo, da mesma forma que ter visto a Gal cantando a nossa música certamente teria sido emocionante. Mas não foi e foi mesmo assim.
Depois quando encarei o Zé Ramalho e não gostei, virei para o outro lado, e como num passe de mágica, encontrei um outro mundo - divino, maravilhoso - completamnete diferente e surpreendente, que só existia ali, daquele exato jeito, porque o Zé estava na direção oposta.
Não se trata de espetacularizar o ordinário, mas de perceber quão espetcular o ordinário pode ser.
E mais tarde, a caminho de Araçatuba pedi para colocar uma música para tocar. Com a permissão e com uma certa nostalgia da saudade, fui certeira, Leonard Cohen - Lover, Lover, Lover.
Ele: "Por que essa música?".
Eu: "Porque ouvi até cansar, ela me trazia você nos tempos de saudade." A segunda parte só pensei.
Foi quando ele me disse, com expressão de surpresa, que também havia escutado a mesma música, sempre cinco horas antes de mim.
Ai pensei, de novo em silêncio, "Assim, quem precisa de Divino, Maravilhoso?".

Um comentário:

Ana Elisa Faria disse...

Dedsss!
Que texto lindo! Ahhh, fiquei emocionada!

Saudade, querida!

beijos,
Aninha